há palavras que dizemos que nos arrancam pedaços do coração. não o fazem com um corte cirúrgico, munidas de um bisturi que ao mesmo tempo que corta, estanca o sangue. não. rasgam como um chacal faz com o corpo morno da presa.
saem-nos da boca e sangra-nos o peito, completamente esventrado, como se do próprio ventre se tratasse.
talvez por isso demoremos tanto tempo a pronunciá-las. escudamo-nos no receio do impacto que elas venham a ter na pessoa a quem nos dirigimos, mas a verdade é só uma: estamos antes a fugir da dor que elas nos irão causar.
há palavras que dizemos que preferíamos não dizer. mas fazê-lo torna-se uma necessidade, que nos causa um formigueiro e um mau estar, que antes sangrar.
há palavras que dizemos, que nos fazem sangrar, mas que nos dão a esperança de um apaziguamento futuro.
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curiosamente, sangra-se mas fica-se com os brônquios mais libertos.